sexta-feira, maio 07, 2010

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As palavras que outrora irrompiam violentamente emergem a presente em doses controladas de loucura. Uma melodia mais para o melancólico, o sol que teima em não reaparecer, a ausência da parte de mim mais  capaz das felicidades pequenas, fazem com o que o meu interior convirja para um ponto perigoso. Sinto na garganta o mesmo nó de outros dias, e a constante desconcentração e consequente divagação do espírito têm um sabor demasiado familiar. A vida ensinou-me a reconhecer os sinais da poesia. Mas teimo a escrever em prosa. Como se fosse sinónimo de sanidade. Não é. Porque a insanidade de ser humano não se define no estilo em que se escreve. Continuo a sentir a mesma vontade de criar, de viver, de explodir em algo belo e incomensurável pelas medidas das coisas triviais de todos os dias. É sempre esta vontade de mais que nos leva a transcender na arte. É por esta grandeza não caber neste corpo finito que nos refugiamos em coisas maiores que nós, que somos capazes de chorar ao som de uma musica, que perdemos as palavras e as achamos nos versos de alguém. O trabalho, o dormir, o comer, o ter de fazer compras, e arrumar e ir a ensaios, a rotina fazem-nos sentir normais. Mas não somos. Ninguém é. É impossível ser-se normal quando se é único. E todos somos. Eu sou.

jo